Não tenho paciência para a BLACK FRIDAY!
- Alexandra Pereira

- 27 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
A primeira vez que me apercebi deste "fenómeno" era eu uma miúda (sou fruto dos anos 70) e assistia na televisão às notícias vindas dos Estados Unidos da América com imagens de perfeita loucura.
O evento Black Friday dava início com o abrir das cancelas para uma multidão impaciente, ansiosa e desenfreada, de olhares tresloucados, com empurrões e atropelamentos para tentarem alcançar o melhor tesouro, ou como quem diz, simplesmente o produto que estivesse mais à mão.

E quando o tesouro pretendido era escolhido por duas ou mais pessoas em simultâneo, estava o caldo entornado. Desencadeava-se uma espécie de duelo em que o mais forte levava o prémio.
Sim, o confronto físico era real.
Eram imagens de um (quase) autêntico cenário de guerra!
Na minha perceção era este o cenário. Um ambiente de batalha, muitas vezes de luta armada, um ambiente de escassez, mesmo sem saberem de quê, um ambiente desesperante, em busca da felicidade perdida....
Nos dias que correm sei que estas quezílias foram desbravadas pelo online. As compras pela internet deixaram para trás o lado sanguinário e feroz do "Eu quero a todo o custo", do "É meu, só pode ser meu". E ainda bem... só que... não!?
Para variar estou a ser otimista, tenho consciência que a internet não eliminou a intenção mordaz do querer só porque sim. Agora é mais fácil comprar! O que a meu ver piora tudo...
Eu percebo o conceito de poupança, e logo eu que sou tão poupadinha, percebo que tu queiras aproveitar a grande promoção e seja esta a oportunidade de adquirires aquele bem ou serviço que sonhas há tanto tempo.
Mas, no meio de tudo isso, no meio de tantas oportunidades, de tantas opções de escolha, quantas compras fazes nesta altura do Black Friday que sejam imprescindíveis, que tenhas mesmo a necessidade de comprar?
Ok, vais dizer-me que aproveitas este evento para comprares os presentes de Natal por um valor mais acessível, assim gastas menos e compras o mesmo (ou mais). Não me parece que assim seja, e digo-te isso porque daqui a três semanas o corrupio das compras natalícias retomam e a poupança já era.
A minha falta de paciência para o Black Friday passa pela confusão e ímpeto consumista que se cria à sua volta. Não podes deixar passar a oportunidade de ter mais, não podes deixar o prazo findar, o produto é escasso, apressa-te... Apressa-te para algo que não te faz falta a maior parte das vezes e que o seu sentido será quase sempre para colmatar sentimentos, aconchegar o teu emocional. Emoções como o apego, o desejo, o medo e até a inveja sobrepõem-se ao que realmente precisas.
Para suprir as faltas e as falhas insistes em investir na camuflagem de emoções. Através de compras, da alimentação ou até de relacionamentos tens a camuflagem perfeita, e tudo em prole do disfarce emocional, só para sentires o "não sentir", a insensibilidade, a apatia, a frieza que a sociedade estimula.
Tens de ser invulnerável e "forte".
Colocar tudo isso de lado, livrares-te dessa camuflagem, permitires-te a sentir o real, a tua essência, as tuas carências, algumas dores e dificuldades é difícil, mas é importante que o faças, é importante para a tua individualidade.
Lembra-te de quem tu és!
Ganha consciência de ti.
Mesmo sendo difícil tu vais conseguir. Tu vais acordar esse bichinho que de vez em quando te incomoda, incomoda-te quando te relembra que ainda tens sonhos.
E por ser difícil não precisas de iniciar a tua transformação sem apoio.
Não estás só.




Todos os anos se repete. Artigo sempre atual.